Baila comigo nesta entrevista extraordinária com Ana Botafogo, a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro 2aj2g
Flexibilidade e Ritmo

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Apresentadora da Série Libertus, no YouTube, onde 11 coreógrafos de várias partes do Brasil foram convidados para coreografar para 11 bailarinos do Theatro Municipal, o jornalista Anderson Lopes tem a honra de entrevistar a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ana Botafogo. Carismática, nossa eterna musa do ballet clássico fala sobre sua carreira profissional no Brasil e no exterior, os desafios pessoais e da participação masculina na dança clássica. Movimente-se! O corpo e a mente agradecem.
Portal AL – Você tem orgulho em ser brasileira? Onde você teve mais oportunidades como bailarina, no Brasil ou no exterior?
AB – É claro que eu tenho muito orgulho de ser brasileira. Comecei minha carreira no exterior e sempre me orgulhava em dizer que era brasileira, em uma época em que o ballet no Brasil ainda não era tão divulgado. Tinha orgulho de tantas referências e tantos ídolos que nos representavam em diferentes áreas em nosso país e no exterior. Orgulho desses ídolos e de nossas pessoas de bem.
Quanto às oportunidades, eu diria que tive mais oportunidades no Brasil, apesar de ter dançado bastante no exterior como convidada. Por ser a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio recebi convites internacionais para me apresentar ou para representar o Brasil em festivais de dança. Então, por tudo isso, tenho, sim, muito orgulho de ser brasileira.
Portal AL – Como surgiu a dança clássica na sua vida? Qual a definição e significado que ela traz pra você?
AB – A dança clássica surgiu desde muito cedo, levada pela minha mãe para aprender os primeiros os do ballet, perto da minha casa, onde logo me encantei. A dança hoje é a maneira de me expressar; é a maneira que a artista Ana tem para colocar todas suas emoções para fora de si. A dança não tem fala, foi sempre através da movimentação do corpo com as coreografias que me eram apresentadas que me comunicava e transmitia toda emoção, seja de um personagem, de uma história ou, às vezes, emoções contidas na música. É bom frisar que na minha adolescência, até viajar para a Europa, fui treinada dentro do ballet clássico. Claro que tive oportunidades de ter contato com outros estilos de dança, mas o ballet seguiu comigo durante todo meu aprendizado até me tornar uma bailarina essencialmente clássica.
Portal AL – Como os homens são vistos, pela sociedade, no ballet clássico? Ainda existe preconceito na participação masculina na dança clássica?
AB – A questão do preconceito melhorou muito nesses últimos 30 anos mas ainda há sim um certo preconceito. Cada vez mais, os meninos bailarinos começam mais cedo o aprendizado, o que tem nos proporcionado uma gama de profissionais da área masculina muito mais prontos para a carreira. Antigamente o rapaz começava tardiamente o aprendizado por conta também de preconceito. Com a criação e manutenção da Escola do Bolshoi, em ville, e algumas escolas oficiais, de governos, que oferecem aulas para meninos, a partir dos oito anos de idade, isto fez crescer consideravelmente o número de bailarinos que vão se formando a cada ano e estão muito bem preparados, inclusive, para o mercado internacional. Houve uma melhora, mas o preconceito ainda existe, até porque as rejeições das famílias partem muito do fato do campo de trabalho ser muito no Brasil e, com isso, os salários ficam achatados.
Portal AL – O título de primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro trouxe coisas boas para sua vida? Quais foram?
AB – Trouxe muita alegria e enorme responsabilidade, mas também proporcionou muitos encontros com coreógrafos e diretores importantes do cenário mundial da dança e isso abriu portas para vários convites. Esse título de Primeira Bailarina é de suma importância; veio coroar uma trajetória de desafios, de querer superar limites naquele momento. Mas eu acho que o mais importante não foi só me tornar Primeira Bailarina, mas sim me manter por tanto tempo com este título, o que é um grande desafio para qualquer bailarino. O dia a dia da bailarina é intenso e os desafios nunca terminam: são constantes, desde uma jovem primeira bailarina até quando chega a ser uma veterana. Os desafios pessoais, físicos, psicológicos e intelectuaisde um primeiro papel são sempre muito grandes para a Primeira Bailarina.
Portal AL – Como você mantém o equilíbrio pessoal, profissional e de empresária? Aliás, fale da sua loja de produtos de dança.
AB – Eu tive uma carreira bastante longa e já imaginava que um dia eu deixaria os palcos. Comecei então a dedicar-me a outros projetos que eram sempre ligados à dança, mas não obrigatoriamente ligados ao palco. Assim surgiu a ideia de ter uma loja com produtos de ballet, desde confortáveis malha, para que fazer aula (e a cada ano isso muda), como também material para que os bailarinos possam chegar à aula ou sair dela, ou seja uma moda casual que também fosse confortável para quem usasse. Hoje eu tenho pessoas para gerir os meus negócios; tenho gestores para cada um dos meus dois grandes negócios que são a loja e a minha escola de dança, que tenho parceria com a escola Âmbar, de Macaé (RJ) e eu abri uma filial em Niterói (RJ). Isso tudo requer alguns cuidados, nada que uma bailarina já acostumada com muita disciplina para organizar essa rotina não pudesse fazer, mas o mais importante é ter uma equipe. Tenho gestores para cada um dos negócios e, claro, conto com uma equipe que trabalha muito; na escola de dança tenho professores que trabalham com crianças pequenas até os adultos e eu faço uma supervisão do ballet. Faço parte de uma empresa que toma conta desses negócios e de toda minha agenda pessoal com aulas e palestras. Tenho dado muitas aulas por todo o Brasil. Agora tem sido tudo online: aulas, workshops, ensaios, palestras e assim eu vou levando minha vida de artista bailarina fora dos palcos. Mas esse ano, com a pandemia tive a maioria de meus compromissos adiados. O próximo compromisso será, com a Companhia de Dança Cisne Negro. Estarei no palcoa presentando o ballet Quebra Nozes, em São Paulo, e será uma apresentação presencial. Posso dizer que hoje em dia a minha participação é exatamente estimular os jovens bailarinos e também jovens empresários, que queiram investir na dança e mostrar a importância e os benefícios que a dança trás para quem a pratica e para quem assiste.
Portal AL – Você acha que deveria ter mais projetos culturais de ballet e de outras modalidades de dança nas comunidades e bairros pobres do Rio? O que precisa para esse processo de projeto acontecer?
AB – Existem sim muitos projetos, embora eu não conheça todos. Eu sempre participei muito de perto, e sou uma madrinha do projeto Dançando Para Não Dançar, aqui no Rio, que é um projeto muito bem-sucedido e hoje tem sede própria, mas que está ando muitas dificuldades agora, durante a pandemia. Há muitos projetos sociais e acho que quando são levados a sério, temos a possibilidade de descobrir talentos, como foi o caso do Dançando Para Não Dançar, que colocou bailarinos que saíram de suas salas de aula em várias companhias, no Brasil e no mundo. Este foi um projeto de muita importância porque não só transformou a vida de bailarinas e bailarinos, mas transformou a vida de suas famílias. Eu acredito muito nesses projetos: se eles são bem gerenciados e tem pessoas competentes dentro da área da dança, a tendência é funcionar muito bem. O que precisaríamos, agora, é exatamente que as empresas voltem a olhar com carinho para esses projetos sociais já existentes, para que eles não morram. O Dançando Para Não Dançar que é um projeto de vinte e cinco anos de idade é super de sucesso, está ando muitas dificuldades e se não for ajudado vai fechar as portas, infelizmente.
Portal AL – O que vem à sua cabeça quando o público vê você no palco?
AB – Quando piso no palco me preocupo com o que estou interpretando. Na realidade, eu só penso no público quando termina, esperando que ele tenha entendido o que eu quis transmitir e que ele tenha se emocionado. Então receber os aplausos desse público é a recompensa. Mas quando danço eu não estou preocupada com o público e sim com a minha personagem… com a minha interpretação.
Portal AL – Quais são os projetos para 2021? Você pretende voltar para as novelas? O que podemos esperar da bailarina e atriz Ana Botafogo?
AB – Para 2021 eu pretendo fazer todos os projetos que foram cancelados este ano, como alguns festivais de dança que eu iria participar e que foram todos adiados para o próximo ano; eu já tenho algumas palestras e workshops agendados.
Outro projeto é lançar um livro, uma biografia que já está escrita, mas estamos agora nos “finalmentes” e poder lançar essa biografia contando toda minha trajetória. Foi uma pesquisa feita por Ernani Ernesto Fonseca, meu pai, onde ele descreve todos os lugares onde eu dancei; apresenta esses espetáculos ilustrando com críticas ou reportagens. Ficou um livro de pesquisa incrível. Esse é um dos projetos para 2021 e se Deus quiser eu vou conseguir lança-lo. Será como uma maneira de incentivo aos jovens bailarinos, mostrar como é a vida da bailarina no palco. E que não dançamos só em grandes palcos, mas em palcos variados, para públicos variados, mas que o prazer e a alegria sempre são imensuráveis quando a gente termina o espetáculo.
Confira o recadinho da nossa Ana Botafogo – https://fb.watch/2yiwWr1Y5p/
Diretor Geral: Jornalista Anderson Lopes
Assessoria de Imprensa Portal AL: Leandro Amorim
Edição: Jornalista Márcio Leoni
Agradecimento:
-Bailarina e atriz, Ana Botafogo
-Jornalista Cláudia Tisato
-Theatro Municipal do Rio de janeiro
-Petrobras
-Vale no Brasil
Jornalista Anderson Lopes
Assessoria de Imprensa e Comunicação
E-mail:. [email protected]
Portal AL:. https://andersonlopesoficial.com.br
Foto capa: Rodrigo Lopes
Segunda e terceira foto: Mário Veloso